_habitação e mídias integradas_
_interfaces para comunidades de baixa renda_

Design para a experiência
O conjunto de experiências que se constroem no cotidiano traduz os modos de vida e a forma como se dão as relações interpessoais de um grupo e de uma sociedade. Juntamente com a consciência, a experiência é o principal domínio da Filosofia e pode assumir definições diversas:
“É possível conceber a experiência como um fluxo de eventos privados, conhecidos apenas por seu possuidor, e que tem, no melhor dos casos, relações problemáticas com quaisquer outros acontecimentos, tais como os eventos do mundo exterior ou fluxos semelhantes em outros possuidores. O fluxo de acontecimentos constitui a vida consciente do possuidor. Nesse modelo há uma completa separação entre mente e o mundo que, uma vez traçada, e apesar do enorme esforço filosófico, se torna impossível superar: o idealismo e o ceticismo são resultados freqüentes.” (SIMON, 1997)
Essa idéia se apresenta como um importante ponto na conceituação projetual de peças com mídias integradas. Uma produção de Design que tem como objetivo o redesenho do cotidiano tomando como princípios as tendências contemporâneas, o comportamento individual e os modos de vida familiar é um Design voltado para a experiência.
O conceito de Design para a experiência retoma a idéia já bastante preconizada por Benjamim de uma certa experiência censurada que necessita de redesenho em virtude do seu empobrecimento. A causa principal desse empobrecimento seria o descolamento entre o ritmo colocado pelo funcionalismo tecnológico e o ritmo natural das experiências humanas que atualmente não encontra mais tempo para realizar-se. Da comunicação subtraem-se as narrativas até que reste dela apenas a informação.
Nesse processo, a comunicação sintetiza-se no dado para poder acompanhar a velocidade ditada pela eficiência da informação em tempo real.
“É como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências. (...) Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação.” (BENJAMIN, 1987)
Dessa forma o Design para a experiência busca lidar com as questões da contemporaneidade considerando a completude dos elementos que a compõem, colocando a tecnologia a serviço do resgate da experiência autêntica e completa, e, substituindo, assim, à experiência esmaecida que tem ocupado cada vez mais o cotidiano das pessoas.
O conceito filosófico de experiência a coloca como uma relação direta entre o indivíduo e o mundo e, portanto, sem mediação. Sob essa ótica as relações construídas por intermédio de meios tecnológicos resultariam numa experiência empobrecida por não se realizar de forma imediata. Entretanto a própria Filosofia tem buscado uma concepção de experiência que mantenha uma maior correlação com a problemática contemporânea assim como tem buscado propor alguns designers.
“O propósito de grande parte da Filosofia recente é, portanto, articular uma concepção menos problemática de experiência, tornado-a objetivamente acessível, de tal forma que os fatos relativos à maneira como um sujeito tem experiência do mundo sejam, em princípio tão cognoscíveis quanto os fatos relacionados à como o mesmo sujeito faz a digestão.”
(SIMON, 1997)
A busca de uma reorientação conceitual e do estabelecimento de critérios de Design que melhor se correlacionem com o homem contemporâneo e com a sua realidade tecnológica mostra-se de grande importância frente ao fato de que grande parte da produção de Design baseia-se no modelo burguês, em conceitos de mercado e no binômio função/forma que nada ou quase nada tem a ver com a contemporaneidade.

Dessa foram, pensar um Design para a experiência significa pensar um Design que considere a realidade tecnológica contemporânea, que não tenha sua finalidade última no produto e sim nas experiências humanas e que cujas relações criadas ultrapassem o limite estético-funcional do objeto.